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16 de dezembro de 2025

‘Daqui 20 anos, a pandemia ainda será discutida’, diz Dias


Por Gilson Aguiar/CBN Maringá Publicado 20/05/2020 às 14h12 Atualizado 23/02/2023 às 00h46
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O historiador e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Reginaldo Dias, fala da complexidade da análise do momento que estamos vivendo, da sua importância e efeitos no Brasil e no Mundo. Segundo ele, em cada país há uma particularidade na reação a pandemia, ela provoca mudanças, mas não podemos afirmar sobre o futuro nenhuma certeza, apenas impressões. Mesmo daqui a décadas, os historiadores estarão discutindo os diversos aspectos da propagação da Covid-19 com diferentes abordagens.

Confira um trecho da entrevista:

Gilson Aguiar: Como é que você resume esse momento que estamos vivendo e o depois, segundo o texto que você produziu, chamado “Depois da Tempestade”?

Reginaldo Dias: Os historiados, como dito em brincadeira, são “profetas do passado”, eles sabem o que aconteceu, não o que vai acontecer. […] O que a gente sabe sobre o passado é modificado também, a gente vai fazendo mais pesquisas, agrega informações, as vezes o olhar sofrendo transformação, então o passado não é cristalizado.

O futuro, menos ainda. As pessoas esperam que a gente estabeleça parâmetros, então nós tivemos pandemias o tempo todo da humanidade, já tivemos fazes de quarentenas, e sabemos que esses processos tem um efeito desestabilizador na economia, no universo político. Há também a comparação com as grandes guerras e, como essa pandemia tem um grande ineditismo que é de ser sistêmica no mundo, […] então ela tem um efeito depressor na economia mundial. […] É muito difícil fazer projeções, mas a gente tem alguns parâmetros dentro disso que é sistêmico, usando uma imagem que sairia da literatura acadêmica, a gente tem uma espécie de desenvolvimento desigual e combinado. É combinado porque é mundial, mas é desigual porque a repercussão em cada país não é a mesma: há mortes, há crise de sensibilidade, há crise econômica, mas cada país tem um grau diferente de crise. […] Cada governo tem um tipo de enfrentamento […], não dá para a gente fazer um prognóstico apocalíptico de que o mundo vai mudar completamente, a gente talvez tenha de procurar a repercussão na especificidade de cada país para entender o que vai acontecer depois.

De qualquer maneira, tem coisas que a gente já pode intuir sem cometer disparate, uma delas é a da aceleração das tecnologias, porque a nossa pandemia é muito angustiante, mas ao mesmo que é sistêmica […], essas tecnologias permitem que a gente tenha um cotidiano um pouco mais […] administrável, o que seria dessa pandemia se a gente não tivesse a internet, por exemplo? Por causa da internet, algumas alternativas de trabalho estão sendo aceleradas, é o trabalho Home Office. As tecnologias de informação também permitem que a gente se informe melhor e também oferece alternativas de lazer […].

Para nós que somos professores, há um incremento da questão da aula remota, muito colegas têm resistência por motivos que são compreensíveis, mas essa é uma tendência que já existia e que vai, provavelmente, se acelerar e que não vai ter uma reversão completa depois que a pandemia acabar.

No meu artigo, eu cito também um aspecto político que está no Brasil. Nós discutimos, hoje, se haverá, ou não, eleições municipais […]. Se houver, o motivo é que o Brasil tem urna eletrônica, então até em uma época recente, […] havia uma discussão se o voto eletrônico era confiável, se valeria a pena voltar ao voto de papel-cédula. Quando uma alternativa mais viável, para mim, seria aperfeiçoar os mecanismos de segurança do voto eletrônico. O que nós temos hoje? Se houver condições de eleições, é porque o voto é eletrônico, então é uma coisa dialética, a aceleração das mídias cria essa sincronia dessa crise mundial, mas, ao mesmo tempo, as tecnologias criam as soluções.

[…] Talvez, haja um ponto de equilíbrio em o que a gente usava e o que passamos a usar dentro da pandemia. […] A convivência com a ideia da morte é uma espécie de guerra não-convencional, a gente tem um inimigo que não é visível a olho nu, mas a gente tem receio de andar na rua, de encontrar pessoas, isso interfere na nossa sensibilidade. [….] Se sobrevivermos, a gente vai lembrar disso tudo com muita tristeza. […] Aquele olhar mais profundo, sobre política, que orienta nossa percepção de mundo, eu acredito que ele não vai ser abalado pela pandemia, e que a gente vai continuar procurando alternativas dentro do campo de visão que a gente já tem, não vai haver uma guinada de 180º, mas tudo isso não intuições.

Gilson Aguiar: Quer dizer que a gente está ainda no meio do olho do furação e tudo isso ainda é uma coisa que a gente vai construir, ou pelo menos ver de forma diferente depois?

Reginaldo Dias: Mesmo que, digamos que a 20 anos, quando a gente olhar para o ano de 2020, haverá disputas sobre as políticas que aconteceram em 2020. Haverá gente que acha que o Governo atual está adotando as medidas certas, e haverá gente que achando que o Governo atual está adotando as medidas erradas. Não é um debate que vai se esgotar nessa conjuntura. A medida que o presente se torna passado, ele também vai sendo atualizado como memória para as próximas gerações.

Ouça a entrevista completa na CBN Maringá.

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