‘Um simples abraço pode ser cruel’: Maringaenses relatam como é conviver com a ‘pior dor do mundo’


Por Rafael Bereta

Qual seria a pior dor do mundo?  Esse sentimento é muito particular. Algumas pessoas toleram mais, outras menos. A costureira maringaense Eselma Servente, 60, sabe qual é. Há seis anos, ela convive com uma dor insuportável chamada neuralgia do trigêmeo.

Eselma Servente (esquerda) e Marioni de Cássia convivem com a pior dor do mundo. Foto: Arquivo Pessoal/Montagem GMC Online

A neuralgia do trigêmeo, ou nevralgia do trigêmeo, é uma doença que afeta o quinto nervo craniano e se divide em três ramos: o mandibular, o oftálmico e o maxilar. Essa dor surge quando o trigêmeo é afetado por uma artéria ou por um tumor que comprime o nervo. Em momentos de crise, ela surge com um choque se espalhando por várias partes da testa, olhos, ouvidos, maxilar, lábios, rosto e nariz.

“É um choque que dura alguns segundos. Só que depois deste choque, fica uma dor na região do rosto. Às vezes posso estar dormindo e acordo com esses choques. Um simples abraço, para mim, em épocas de crise, é cruel”, descreve Eselma ao GMC Online.

Primeiras dores

Inicialmente, Eselma sentiu dores estranhas na cabeça, na mandíbula e no ouvido. Na época, ela pensou que poderia ser uma sinusite, mas a mandíbula doía muito. Então, procurou um especialista.

”Procurei uma especialista buco-maxilo-facial, que parecia entender sobre o assunto. Fiz um tratamento que foi pedido na época, mas não resolveu. Então, me disseram que eu precisava fazer uma cirurgia, porém ocorreu tudo errado. Saí do hospital com muita febre. Depois disso, procurei outros médicos porque a dor é muito insuportável, mas nada adiantou”, explica ela, que aprendeu a conviver com o problema.

DIAGNÓSTICO. A neuralgia do trigêmeo, afeta o quinto nervo craniano e se divide em três ramos, o mandibular, o oftálmico e o maxilar. Foto: Reprodução/Pixabay

‘O diagnóstico para mim foi terrível’

Além de Eselma, o GMC Online conversou com mais uma maringaense que há dez anos convive com a pior dor do mundo. A vendedora Marione de Cassia, 53, explica que o diagnóstico mudou a vida dela totalmente.

“Quando tive a primeira crise da doença foi uma dor terrível não sabia o que tinha. Tive uma dor muito forte na mandíbula que eu não conseguia nem falar. Tomei alguns medicamentos que no início passavam, mas com o tempo os remédios tradicionais para dor não faziam mais efeito. Passei então por vários médicos até chegar ao neurologista, fiz o exame angioressonância e o diagnóstico veio. Para mim foi terrível e essa doença muda totalmente a sua vida” diz.

A partir de então, um simples abraço, lavar e pentear os cabelos e escovar os dentes passaram a ser uma atividade cruel em épocas de crise. “É muito complicado e de fato é preciso tomar muitos remédios diariamente, para não estar com dor, é preciso estar dopado e a gente acaba não tendo uma vida normal e se diminui a dose dos remédios a dor insuportável volta. No entanto, no meu caso, eu tenho até que tomar antidepressivo para poder aceitar as minhas limitações a respeito dessa dor que acaba afetando minha família e as pessoas que estão ao meu redor”, comenta.

Dia Internacional de Conscientização da Neuralgia do Trigêmeo

Em 7 de outubro, neste sábado, é o Dia Internacional de Conscientização da Neuralgia do Trigêmeo. Para ajudar pessoas com o mesmo problema, Eselma abriu um grupo para esclarecer sobre o assunto e tirar duvidas sobre o diagnóstico. O grupo no Facebook é formado por mais de 1.600 pessoas e no WhatsApp por mais de 400.

“Em 2018, o nosso grupo teve um início bastante peculiar, com um de nós sugerindo a ideia para o outro. Hoje, temos participantes de diferentes partes do mundo, como Suíça e Estados Unidos, que se juntaram a nós. Este projeto tem como principal missão a realização de palestras, a convocação de especialistas para compartilhar seus conhecimentos e, acima de tudo, conscientizar e informar sobre um assunto tão grave, mas muitas vezes negligenciado”, afirma Eselma.

A vendedora Marione ressalta sobre a importância de conscientizar as pessoas para que a doença seja reconhecida.

“Antes não gostava de tocar no assunto porque as pessoas não entendiam o que era quando eu falava, mas com o tempo comecei a falar mais e participar mais nos grupos. Por isso, precisamos divulgar esse assunto e ter mais ajuda da saúde em geral que é bem escassa”, afirma Marioni. Para quem deseja ajudar ou saber mais sobre a neuralgia do trigêmeo, basta entrar em contato com a Eselma no (44) 9 9118-9398.

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