A Covid-19 sob olhar de líderes religiosos de Maringá

Como as religiões de Maringá estão avaliando esse momento de pandemia de Covid-19? A reportagem do GMC Online conversou com representantes de nove religiões em Maringá para entender sobre o momento e como podemos superar a crise.
Abaixo, estão depoimentos das religiões pertencentes ao Grupo de Diálogo Inter-religioso (GDI) de Maringá.
1. Padre Virgílio Cabral dos Santos, Vigário Geral da Arquidiocese de Maringá
“A Igreja sempre preocupada com a dignidade humana e o serviço à vida, acompanha atentamente os desdobramentos da atual pandemia, que traz morte, insegurança e até desespero a muitos, nesse momento tão triste da nossa história.
À luz de outros países, que sofreram o primeiro impacto do coronavírus, foi ela quem tomou iniciativa de convidar clero e leigos ao distanciamento social para impedir a disseminação do vírus, através do fechamento das igrejas e das férias coletivas aos funcionários.
Sustenta a comunhão dos fiéis através das redes sociais, levando consolo e esperança por meio das celebrações, orações e diálogos. Mantém o atendimento a todos que a procuram, presencialmente, pelo contato pessoal, ou oferecendo auxílio pelos meios de comunicação à distância. Assiste às famílias e pessoas menos favorecidas com alimentos, roupas e a palavra de conforto e apoio. Acolhe e atende milhares de pessoas, em suas entidades assistenciais.
Tudo sempre, em sintonia com as orientações das autoridades sanitárias locais. Se grandes são as dúvidas em relação a doença, maior é o Amor de Deus Pai. Ele une, fortalece e garante a todos os seus filhos e filhas a certeza da vitória final!”
2. Pastor Alexandre Ferrarezi, Presidente da Ordem dos Pastores Evangélicos de Maringá (Opem)
“Neste momento de pandemia, em uma visão bíblica, nós temos a compreensão daquilo que o próprio senhor Jesus disse que nós viveríamos tempos difíceis, de guerras, de epidemias e que nós deveríamos nos preparar para este momento. ‘Neste mundo tereis aflições, tendes bom ânimo’. Avaliando pelo critério bíblico, nós passaremos por alguns desconforto, mas cremos que vamos vencer esse processo agora. Contudo virão outros, o que nós temos que manter nesse momento é uma atitude de fé. As escrituras sempre nos orientaram para este momento. Elas nos mostram o caminho de dor também.
A Igreja, como um símbolo de luz, também, na questão prática e social, deve compreender esse momento em todas as áreas. Em uma acolhida no sentido da necessidade de cada um, seja com uma palavra de apoio, uma solicitação de alimento, de remédio, esse é o papel da Igreja. A Igreja, também, dá o pão a quem precisa, dá a roupa a quem precisa, dá abrigo a quem precisa. No sentido global, esta é uma grande oportunidade da Igreja exercer seu papel na sua essência, de estender a mão, de abençoar os que precisam e de ter uma palavra de conforto ao desespero que muitas vezes pode tomar o coração de muitas pessoas”.
3. Sheik Victor Conceição, Sheik da Mesquita Muçulmana de Maringá
O Sheik Victor disse que para o Islamismo, algo parecido já aconteceu muito tempo atrás com os muçulmanos. Na época de Califa Omar, uma peste acometeu a região em que era líder. “Se acontecer, a pessoa não saia do lugar. Se tiver longe, não venha”, segundo o Sheik foi a ordem do Califa à época, ordenando que todos mantivessem onde estivessem para que a peste não espalhasse ainda mais.
Então, o Sheik afirma que para os muçulmanos, deve haver um isolamento social, um afastamento, bem como as providências foram tomadas antigamente. Ainda, ele complementa dizendo que tudo é predestinado por Deus, mas que cada um deve fazer sua parte, tomar as providências de isolamento para superar essa crise.
4. Daniela Campos, liderança do Candomblé em Maringá
“As religiões de matriz Africana, incluindo o Candomblé, está lidando com essa questão, de forma bastante alinhada com as orientações do governo de forma cívica e cidadã, onde de um maneira geral, as instituições religiosas, cumprem esse papel, até por ter um contato muito mais direto com a população em muitas situações.
Com inseguranças e incertezas, como qualquer ser humano nesse momento, com fé e esperança que tudo vai passar e que sairemos dessa situação mais fortes e com muito mais fé no que acreditamos, no caso do Candomblé, os Orixás.
Acredito que para superar essa crise, além de disposição do governo para recursos a saúde para o combate ao vírus, a ajuda a população para a vulnerabilidade da crise econômica e principalmente a ajuda espiritual, por parte de suas religiões, atuando de forma sensata e positiva, mediante suas doutrinas, para equilíbrio emocional de uma população desestruturada e insegura. Tenhamos equilíbrio, calma e fé… Tudo vai passar!”
5. Alcídio Pereira, Presidente da 7ª União Regional Espírita – Maringá
“Na opinião de Divaldo Pereira Franco, o conferencista, médium e escritor espírita, a doutrina Espírita analisa que não importa se esta pandemia veio por obra dos homens ou de Deus, sempre será com a sua devida permissão e, em se tratando de um Ser de Perfeição e Sabedoria absolutas, não será como castigo que ela ocorre, mas, sim, por amor. Temos que voltar para casa, e entender que o lar é mais importante que o clube as baladas e todos os outros meios de distração, inclusive o excesso de atividades profissionais que nos impede a necessária convivência familiar.
Não a vemos como castigo, mas o meio que o Criador do Universo aproveita mais ou menos a cada 100 anos como está registrado na história da humanidade, pestes que pela condição de atraso da humanidade, se transformaram em pandemias e, apesar dos sofrimentos, resultaram em avanços científicos e morais. Assim, apesar do alto preço que todos estamos pagando, nós espíritas entendemos que não é castigo, mas sim a lei de causa e efeito agindo, esquecemos do mandamento maior de Jesus necessário para a nossa salvação: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Fazer para o próximo o que queríamos que ele nos fizesse. Nos asseverou também Jesus que a semeadura é livre, mas a colheita obrigatória!
Para superar a crise, primeiro devemos seguir as orientações da ciência médica com os cuidados com a higiene e distanciamento. Segundo, é se ocupar: leituras, bons filmes, boas músicas e interação entre os familiares com atividades que ocupem a todos.
Por fim, vamos sugerir a todos o que todas as famílias espíritas fazem: O Evangelho no Lar. Diariamente, reunirmos a família para uma leitura edificante, e após cada participante faz a sua prece, agradecendo, como também pedindo a Deus e a Jesus que proteja nossa família, nossos amigos, nosso país, e principalmente os profissionais da saúde, para possam continuar na abençoada tarefa de salvar vidas”.
6. Assessoria de Imprensa da Religião de Deus
“Em nome do Presidente-Pregador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, José de Paiva Netto, queremos saudar a todos que nos honram com sua audiência com esta Oração que reconhece a presença Divina que habita em cada um de nós: ‘Deus Está Presente! E Viva Jesus em nossos corações para sempre!’.
Nós agradecemos a oportunidade poder compartilhar, neste momento de dor, da mensagem ecumênica de Jesus, que nos oferece segurança e tranquilidade de Alma para possamos enfrentar e vencer juntos essa pandemia. Afirmou o Cristo, em Seu Evangelho, segundo João, 14: 18: ‘Não vos deixarei órfãos; voltarei para junto de vós’.
Nós acreditamos que nada acontece nesse mundo sem o conhecimento e o amparo de Deus, do Cristo e do Espírito Santo. Eles respeitam nosso livre-arbítrio, não podem eliminar nossas construções cármicas. Compreendemos que o que ocorre com a humanidade é gerado pelas ações coletivas de seus povos, atraímos para nossos destinos coletivos as glórias e os desafios acumulados como resultados de nossas ações.
O novo coronavírus pode ter nos colocado a todos de quarentena, mas estamos também sendo forçados a olhar para o próximo, para os nossos irmãos em humanidade, acima de regimes políticos, interesses econômicos, culturas, etnias, religiões, artes, esportes… Estamos sendo convocados, a duras penas, a cuidar de quem está do nosso lado e também daquele que está do outro lado do planeta. É uma convocação a sermos mais humanos.
Vemos que o caminho para sublimar a crise reside no próprio ser humano e seu espírito eterno. Escreve o Irmão Paiva, em seu livro A Esperança não morre nunca: ‘O que é a crise senão ensejo disfarçado de infortúnio? Digo, há décadas, que obstáculos são prêmios de Deus à nossa inteligência, estímulos para quem não abdica das realizações que lhe vêm justificando a existência, dando sabor à vida. É quando melhor se pode exercer o talento. Todo revés traz em si próprio a solução, ensina a vetusta e experiente cultura oriental. Lamentar nada constrói. Temos de combater o desânimo, sem iludir a multidão. Se desolados, homens e nações quedam-se indefesos ou levantam-se em revolta. Costumo dizer que é nos momentos de crise que se forjam os grandes caracteres e surgem as mais poderosas nações’“.
7. Alexandre Israel Pinto, Diretor Executivo da comunidade judaica de Maringá
“Eu particularmente avalio esse momento de pandemia e isolamento social de forma positiva. Acredito que o planeta está tendo um descanso necessário. O Judaísmo preconiza que o propósito da existência da humanidade na Terra é cuidar e desenvolver um mundo melhor para todos os seres vivos e quando isso não está sendo levado a sério a natureza responde como pode – tudo é ação e reação. O isolamento social possibilitou com que as pessoas tivessem a experiência de “cair para dentro”, ou seja, experimentar quem é esse sujeito quando navega em mar revolto – como no caso da Arca de Noé. O ser humano é a espécie mais perigosa no momento e a ausência dele fora de suas casas, permitiu o aparecimento de espécies que estavam acuadas e isso tem sido maravilhoso para o exercício da coexistência com outros seres, pois tudo está interligado. Um desequilíbrio pode comprometer todo o planeta.
Toda crise é uma oportunidade para reflexão e aprendizagem. As lições judaicas para tempos difíceis transpassam pela observação da memória histórica do povo judeu. Em épocas de ‘vacas magras’, o trabalho assistencial e comunitário é ainda mais imprescindível! Este é um dos caminhos que nós judeus adotamos para superar tempos de crise. É importante ter amor próprio para ter condições de amar o próximo – ‘…mas amarás o teu próximo como a ti mesmo…’ (Levítico 19:18b). Contudo, é curioso observar que quando não havia essa necessidade de distanciamento, já era um exercício contínuo para conseguir trazer o que chamamos de ‘distante’ para próximo. Pensar no coletivo pode ser um caminho”.
8. Dr. Elton Tada, Diretor do templo budista JodoShu Nippakuji de Maringá
“O budismo acredita na inter-relação e interdependência entre todos os seres. Assim, cuidar-se significa cuidar dos outros, e cuidar dos outros é, também, uma auto-preservação. Essa pandemia tem deixado bem evidente que não somos sozinhos nem independentes. Tem-se falado muito que essa doença é respiratória, o que é verdade, mas é uma doença que se revela com profundos sintomas sociais.
Um dos principais ensinamentos de Buda é ver as coisas como elas realmente são, sem as distrações daquilo que aparenta ser, mas não é. O fato é que o isolamento social é o principal método de prevenção a essa doença. O isolamento social não é jogo político nem econômico, é ciência a favor da vida. Contra esse fato, não há opinião válida. Só é contra esse posicionamento quem está se distraindo com algum fator alheio à verdade.
O Karma é a simples consequência de cada e todo ato que fazemos. Nós construímos uma sociedade globalizada, portanto as doenças também são globalizadas. Não há o que reclamar. O vírus não é um ser bom ou ruim, não é culpa da China ou da Itália. É apenas consequência do mundo que criamos para viver. Hoje, estamos construindo nosso Karma para o futuro próximo e distante. Portanto, se não respeitarmos as precauções apresentadas pela ciência, geraremos morte. Se respeitarmos, salvaremos vidas. Nossos templos no Brasil estão fechados tanto para cerimônias quanto para visitação. Temos feito cerimônias online, e todos os dias desejamos a superação da pandemia em nossos rituais e em nossos corações. Em Maringá, especialmente, temos um Asilo, o Wajunkai, e estamos lutando com a afinco para que nenhuma das trinta e cinco vidas que assistimos hoje seja perdida para o coronavírus”.
9. Dra. Mahasti Sahihi de Macedo, representante da comunidade Fé Mundial Baha’i de Maringá
“Neste momento de pandemia, os Bahá’is, assim como outros membros desta família humana, sentem grande preocupação pelo bem-estar da humanidade, especialmente pelos mais vulneráveis, e buscam dar apoio aos esforços indispensáveis sendo feitos para proteger a saúde e bem-estar de todos. Este sentimento foi primorosamente expresso pela Casa Universal de Justiça, órgão administrativo máximo da Fé Bahá’i, em duas mensagens enviadas em março e abril ao Bahá’is do mundo.
Disse a Casa Universal de Justiça: ‘… Ao longo dos últimos meses, um mundo apreensivo tem tratado de aceitar uma crise de saúde que evoluiu rapidamente, afetando a população de muitos países e cujas consequências para a sociedade ainda não podem ser avaliadas com nenhuma certeza. […] Poucas vezes já se mostrou mais evidente que a força coletiva da sociedade depende da unidade que ela pode manifestar em ação, desde o âmbito internacional até as bases. […] Por mais difíceis que sejam as circunstâncias atuais, e por mais próximos que alguns setores da sociedade estejam do seu limite de resistência, a humanidade finalmente passará por esta provação e emergirá do outro lado com percepção mais apurada e apreço mais profundo por sua inerente unicidade e interdependência. […] Este teste de resistência da humanidade lhe concederá maior percepção. Líderes, pensadores proeminentes e comentaristas começaram a explorar conceitos fundamentais e aspirações audazes que, em tempos recentes, estiveram geralmente ausentes do discurso público. No momento, estes são apenas vislumbres iniciais, mas eles sustentam a possibilidade de que um momento de consciência coletiva possa estar à vista’”.
A reportagem não conseguiu contato com representantes da Umbanda e da Religião Indígena.
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