Sem fiscalização, festas clandestinas com milhares de pessoas se espalham por Maringá; VÍDEO
Basta uma mensagem ser enviada em grupos de WhatsApp, em Maringá, para em poucos minutos a aglomeração acontecer. É assim que jovens da cidade têm se organizado para promover festas clandestinas em vários pontos de Maringá nos finais de semana.
Os eventos clandestinos chegam a reunir mais de 1 mil pessoas e os locais escolhidos são grandes loteamentos novos, longe da fiscalização da prefeitura e Polícia Militar (PM). A maioria dos frequentadores é jovem, não usa máscaras e ignora recomendações de distanciamento social.
Relatos de quem frequenta
Segundo uma das frequentadoras das festas, uma jovem de 21 anos, uma das festas é organizada totalmente pelo WhatsApp. Segundo ela, que preferiu não se identificar, os organizadores enviam mensagens sobre o local e em poucos minutos todos vão para a região.
“Eu sempre recebo as mensagens de amigos de amigos. Um vai enviando para o outro sabe. Mas quem inicia os envios são os organizadores porque eu sempre ouço falar deles. Não sei quem são, mas eles organizam tudo. Tem até as barracas com vendas de bebidas”, explicou a mulher.
Outra frequentadora, que também não quis se identificar por questões de segurança, tem 23 anos e disse que alguns organizadores destas festas clandestinas passam até recomendações de cuidados para os jovens.
“Tem a galera com boa intenção, que só quer festar e manter uma certa ordem, entende? A galera que fala vamos se divertir, a galera que tenta evitar que as pessoas fiquem passando de moto, que tenta controlar o trânsito, porque tem gente que faz questão de só ficar passando no meio, entendeu? O ambiente às vezes é invadido por pessoas mal intencionadas”, disse a jovem que frequenta as festas.
As aglomerações costumam acontecer em locais distantes do centro, como no prolongamento da Avenida Guedner, no Jardim Aclimação, na Avenida Sincler Sambatti, no Parque Industrial, em bairros na divisa com o município de Sarandi e também na Avenida Reitor Rodolfo Purpur, perto dos galpões abandonados da antiga Sanbra, dentre vários outros pontos da cidade.
Os donos de terrenos que são invadidos pelas festas clandestinas não foram encontrados pela reportagem para comentar o caso. Mas, segundo os próprios frequentadores, em alguns locais os jovens vão embora e deixam todo o lixo nos terrenos que geralmente estão à venda.
Veja abaixo o vídeo que mostra a aglomeração
Festas clandestinas de Maringá geram roubos e até bala perdida
Sair de casa para curtir a noite com amigos e familiares nas festas clandestinas de Maringá se tornou um risco. Há relatos de assaltos e roubos, principalmente de carteiras e celulares. Além disso, no último fim de semana uma adolescente, de 15 anos, morreu em uma das festas vítima de uma bala perdida.
Ingrid Regina estava no sítio do avô, que fica perto do local onde acontecia a festa, e decidiu passear pela cidade com o irmão. Eles pararam em frente à festa porque a menina encontrou alguns amigos.
Enquanto conversava, um homem apareceu para matar um dos jovens que estavam no local e Ingrid acabou sendo vítima de bala perdida. O autor dos disparos se apresentou à Polícia Civil nesta quarta-feira, 11, mas não ficou preso. De acordo com o delegado de homicídios de Maringá, Diego Almeida, a legislação eleitoral não permite que ele fique preso.
“A legislação eleitoral prevê que não se pode efetivar uma prisão cautelar cinco dias antes das eleições e 48 horas depois. Então, por causa disso, trata-se de uma prisão cautelar, e a gente é impossibilitado de efetivar essa prisão”, disse Almeida.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Polícia Militar (PM), em Maringá, para confirmar se há registros nos boletins de ocorrência de roubos e assaltos nos locais onde ocorrem as festas. A PM informou que vai levantar as informações e enviar à redação do GMC Online ainda esta semana.
Mãe de menina assassinada em festa clandestina já tinha feito denúncias da aglomeração
A mãe de Ingrid Regina, de 15 anos, morta por uma bala perdida em uma festa clandestina de Maringá disse ao GMC Online que já tinha feito denúncias das aglomerações e da bagunça que estava acontecendo no local.
Valéria Marques Júlio Regina, 39 anos, está revoltada com a forma como perdeu a filha. A menina estava passando pelo local, segundo a mãe, que fica ao lado do sítio da família. Valéria não se conforma.
“Minha filha foi assassinada numa festa clandestina. Já ligamos, já denunciamos mas ninguém fez nada. Já ligamos na polícia e a polícia manda ligar na Guarda Municipal. A Guarda Municipal disse que tem que ser a polícia. Ninguém tomou providências. Ninguém fez nada. E eu perdi minha filha por causa disso. É revoltante demais. A festa acontece do lado do sítio do meu pai todo fim de semana. É uma falta de respeito com a gente. Som alto, carro cantando pneu, barulho de tiro, um absurdo. Falta de avisar as autoridades não foi. Te garanto”, desabafou a mãe da menina Ingrid, bastante emocionada.
Valéria chegou a fazer um apelo para as autoridades. Ela não quer que outras mães passem pelo que ela está passando.
“É uma dor que eu não queria que nenhuma outra mãe sentisse. E ainda hoje tive que ver o homem que matou minha filha saindo pela porta da frente da delegacia. Ele zombou da nossa cara. Eu não consigo acreditar. A morte da minha filha vai ficar em vão porque agora ele vai fugir. É muita injustiça meu Deus”, disse a mãe da vítima.
Prefeitura diz que fiscalização das festas clandestinas depende de denúncias
A Prefeitura de Maringá, por meio da assessoria de imprensa, informou que quando os moradores fazem denúncias de aglomerações em festas clandestinas pelo telefone 156, a Guarda Municipal e a PM são acionadas e vão até o local. Em nota, a Prefeitura disse que “Eventos que não respeitem as normas estabelecidas nos decretos, devem ser denunciados por meio da Ouvidoria Municipal (156).”
Os frequentadores dizem que quem geralmente aparece nestas festas e pede para os jovens irem para casa é a PM.
Setor de eventos defende a retomada gradativa das festas com segurança para o fim dos eventos clandestinos
O setor de eventos de Maringá com certeza é um dos mais que estão sofrendo com a pandemia do novo coronavírus. As grandes festas, como shows, formaturas, corridas, dentre vários outros tipos de eventos, estão parados por conta do risco de contaminação pelo novo coronavírus.
Com isso, muitas empresas fecharam as portas e se obrigaram a demitir colaboradores e romper contratos com fornecedores. A Prefeitura de Maringá autorizou, em outubro deste ano, a retomada de reuniões, celebrações e comemorações com até 150 pessoas. O decreto Nº 1483/200 diz ainda que todos deverão usar máscaras e permanecer sentados.
O setor luta para que a retomada de eventos com mais pessoas e mais segurança seja gradativa. Enquanto isso não acontece, as festas clandestinas imperam pela cidade e provocam muitas aglomerações.
O segundo vice-presidente do Maringá e Região Convention & Visitors Bureau, João Vitor Mazzer, disse que os eventos feitos por empresas idôneas são muito mais seguros e os maringaenses precisam ter essa consciência antes de ir para esses eventos clandestinos.
“Nossa luta desde o início é para que o setor de eventos pudesse retornar de forma gradativa e com segurança. Um evento realizado por profissionais é com certeza mais seguro, e o controle é muito mais efetivo do que em eventos que acabam ocorrendo clandestinamente. Acreditamos que para uma retomada consciente e segura seja necessária a contribuição de todos. Nosso setor gera emprego, renda e movimenta a economia, precisamos de cidadãos conscientes para que possamos retornar às atividades como os outros setores”, disse João Vitor Mazzer, segundo vice-presidente do Maringá e Região Convention & Visitors Bureau.