Cinco filmes que você precisa ver
Em tempos de pandemia e cinemas fechados, vai bem uma lista pessoal com os melhores filmes já vistos. Para o TOP FIVE, foquei nos filmes menos óbvios. Mas não posso deixar de, pelo menos, citar uns 15 filmes a mais dos quais tenho grande apreço.
São eles: “Old Boy” (2003, Chan-wook Park), “Conta Comigo” (1986, Rob Reiner), “As Sessões” (2012, Bem Lewin), “O Sonho de Cassandra” (2007, Woody Allen), “Vanilla Sky” (2001, Cameron Crowe), “Profissão: Repórter” (1975, Michelangelo Antonioni), “O Escritor Fantasma” (2010, Roman Polanski), “Videodrome: A Síndrome do Vídeo” (1983, David Cronenberg), “Clube da Luta” (1999, David Fincher), “Os Bons Companheiros” (1990, Martin Scorsese), “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003, Tim Burton), “Império dos Sonhos” (2006, David Lynch), “Dogville” (2003, Lars Von Trier), “Era Uma Vez na América” (1984, Sergio Leone) e, o maior de todos, “O Poderoso Chefão” (1972, Francis Ford Coppola)
Abaixo, finalmente, cinco filmes que você precisa ver:
“Marcas do Destino (Mask)” (1985), de Peter Bogdanovich

Esse filme tem a ver com madrugadas de insônia, ainda na infância, e planos arquitetônicos para se conseguir gravá-lo em VHS, em épocas de videocassete. Numa dessas insônias, num Corujão da vida, pude ver trechos de “Marcas do Destino (Mask)”. À época, fiquei estarrecido com a fisionomia monstruosa do protagonista (ainda não tinha visto “O Homem Elefante”, de David Lynch).
O filme conta a história do inteligente garoto Rocky (Eric Stoltz), baseado na vida de Roy L. Dennis, que sofria de displasia cranio diafisária – doença óssea extremamente rara. Mesmo com tantos problemas envolvendo a deformação no rosto, o garoto conta com uma mãe doidona ao seu lado, a Rusty (Cher), para seguir tocando a vida. Filme triste, bem triste. E que, literalmente, faz jus ao velho ditado: quem vê cara, não vê coração.
“Feliz Natal” (2008), de Selton Mello

Este é o meu representante brasileiro na lista. Sei que existem dezenas de filmes nacionais mais brilhantes, premiados e aclamados. Ainda assim, fico com “Feliz Natal”, primeiro trabalho de Selton Mello como diretor. Caio (Leonardo Medeiros), 40 anos, é um sujeito comum, que optou por uma vida comum, ao lado de uma mulher comum, em um ferro-velho de uma cidade interiorana comum.
Na véspera de Natal, ele resolve ir até a capital para se reencontrar com a família e, consequentemente, com o passado. Na festa da virada, o olhar do protagonista percebe um mundo de vaidades e sentimentos fugazes. Tudo não passa de embalagem. Os membros de sua família derretem em meio à mediocridade que consiste a classe média alta pautada sempre pelo consumo. Ovelha negra, Caio é um fugitivo daquilo que viveu anteriormente e que fatalmente fez com que todos da família apontassem o dedo para ele.
Sua presença, naquela véspera de Natal, incomoda aos outros; os anos passaram, e agora ele parece ser o único a ter o direito de apontar o dedo para qualquer um da família. Mas Caio só quer mesmo voltar à simplicidade, ao ferro-velho, aos braços da amada e respirar um pouco de ar após uma triste noite de Natal (todas são).
“Shame” (2011), de Steve McQueen (II)

“Shame” fala de sexo. Sexo sem firulas. Sexo em sua essência. Sexo como sendo um dos vícios que acometem os seres humanos. Brandon (Michael Fassbender) é um sujeito bem sucedido e independente em Nova York. E também viciado em sexo. Sua rotina e ordem mental – trabalho, casa, sexo, sexo e sexo – são atrapalhadas com a visita da irmã Sissy (Carey Mulligan), que parece ter chegado para ficar.
Fatores que mais me surpreendem em “Shame” é a sinceridade do roteiro (não é tarefa fácil falar do vício em sexo sem citar masturbação, sexo coletivo, sexo pago, impotência sexual, sexo entre pessoas do mesmo sexo e sexo incestuoso) e também uma espécie de dualidade entre limpo e sujo, sagrado e profano, amor e sexo.
Em contraponto às “sujeiras” de Brandon pelos becos em busca de sexo, temos um cenário clean perfeito ao redor do personagem: ruas limpas e desertas na madrugada, metrô brilhando, vida executiva alva e um apartamento com ares minimalistas de dar inveja.
“Moonrise Kingdom” (2012), de Wes Anderson

Neste filme ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original, o ótimo diretor Wes Anderson apostou na ingenuidade e sinceridade das crianças para contar uma das mais bonitas histórias de amor do cinema. Sam (Jared Gilman) e Susan (Kara Hayward), no auge dos seus 12 anos, arquitetam um plano de fuga após instigante troca de cartas singelas.
A ideia é viver na floresta, sem adultos por perto. Mas uma verdadeira paixão conta sempre com retardatários, no caso os pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand), o capitão Sharp (Bruce Willis) e o escoteiro-chefe Ward (Edward Norton).
E, afinal, o que são os relacionamentos afetivos se não duas crianças (disfarçados de jovens adultos em início de carreira) buscando o isolamento, dentro de um apartamento pequeno, para conhecerem melhor o amor e também para se autoconhecerem? “Moonrise Kingdon” simboliza o que há de mais bonito na relação entre duas pessoas apaixonadas: a cumplicidade, ou o velho e bom “tamo junto”.
“Ela” (2013), de Spike Jonze

Escrevi parte desta lista ouvindo a trilha sonora do filme “Ela”, assinada por William Butler e Owen Pallett, da banda Arcade Fire. Quem me conhece sabe: quando gosto de algo, principalmente musical, sou capaz de passar anos consumindo-a. A trilha é insuperável, mas falemos do filme: em “Ela”, Spike Jonze foi capaz de fazer o filme que melhor retrata a solidão das pessoas no mundo contemporâneo.
Para isso, profetiza um tempo não muito distante em que namoraremos sistemas operacionais com projeções de voz. O escritor de cartas encomendadas Theodore (Joaquin Phoenix, um dos meus atores prediletos) passa a se relacionar com a voz de Samantha (Scarlet Johansson, que recebeu premiações mesmo tendo participado só com a voz no longa). No mundo de Jonze, finalmente é permitido ser triste.
É normal, pelas ruas, encontrar gente falando com seus sistemas operacionais, sempre sozinhas, em raros momentos de descontração e até sorrisos. No filme “Ela”, a solidão dos homens e das mulheres é algo comum, e já não é preciso mais disfarçar o fato de que, ao chegarmos em casa, talvez a única companhia será a de um videogame de última geração, ou então a da sua nova namorada representada pela sensual voz de Scarlet Johansson em um sistema operacional.
Em uma das frases mais fortes do protagonista, uma reflexão sobre as relações humanas atuais, sobre o jeito que vivíamos e sobre como passamos a viver principalmente após o advento da internet: “Às vezes eu acho que já senti tudo que eu deveria. E que não sentirei nada a partir de agora. Só versões menores do que já senti”.
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