13 de julho de 2025

Cinco filmes que você precisa ver


Por Wilame Prado - No Plural Publicado 05/08/2020 às 19h50 Atualizado 25/02/2023 às 02h08
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Em tempos de pandemia e cinemas fechados, vai bem uma lista pessoal com os melhores filmes já vistos. Para o TOP FIVE, foquei nos filmes menos óbvios. Mas não posso deixar de, pelo menos, citar uns 15 filmes a mais dos quais tenho grande apreço.

São eles: “Old Boy” (2003, Chan-wook Park), “Conta Comigo” (1986, Rob Reiner), “As Sessões” (2012, Bem Lewin), “O Sonho de Cassandra” (2007, Woody Allen), “Vanilla Sky” (2001, Cameron Crowe), “Profissão: Repórter” (1975, Michelangelo Antonioni), “O Escritor Fantasma” (2010, Roman Polanski), “Videodrome: A Síndrome do Vídeo” (1983, David Cronenberg), “Clube da Luta” (1999, David Fincher), “Os Bons Companheiros” (1990, Martin Scorsese), “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003, Tim Burton), “Império dos Sonhos” (2006, David Lynch), “Dogville” (2003, Lars Von Trier), “Era Uma Vez na América” (1984, Sergio Leone) e, o maior de todos, “O Poderoso Chefão” (1972, Francis Ford Coppola)

Abaixo, finalmente, cinco filmes que você precisa ver:

“Marcas do Destino (Mask)” (1985), de Peter Bogdanovich

Foto: Divulgação

Esse filme tem a ver com madrugadas de insônia, ainda na infância, e planos arquitetônicos para se conseguir gravá-lo em VHS, em épocas de videocassete. Numa dessas insônias, num Corujão da vida, pude ver trechos de “Marcas do Destino (Mask)”. À época, fiquei estarrecido com a fisionomia monstruosa do protagonista (ainda não tinha visto “O Homem Elefante”, de David Lynch).

O filme conta a história do inteligente garoto Rocky (Eric Stoltz), baseado na vida de Roy L. Dennis, que sofria de displasia cranio diafisária – doença óssea extremamente rara. Mesmo com tantos problemas envolvendo a deformação no rosto, o garoto conta com uma mãe doidona ao seu lado, a Rusty (Cher), para seguir tocando a vida. Filme triste, bem triste. E que, literalmente, faz jus ao velho ditado: quem vê cara, não vê coração.

“Feliz Natal” (2008), de Selton Mello

Foto: Divulgação

Este é o meu representante brasileiro na lista. Sei que existem dezenas de filmes nacionais mais brilhantes, premiados e aclamados. Ainda assim, fico com “Feliz Natal”, primeiro trabalho de Selton Mello como diretor. Caio (Leonardo Medeiros), 40 anos, é um sujeito comum, que optou por uma vida comum, ao lado de uma mulher comum, em um ferro-velho de uma cidade interiorana comum.

Na véspera de Natal, ele resolve ir até a capital para se reencontrar com a família e, consequentemente, com o passado. Na festa da virada, o olhar do protagonista percebe um mundo de vaidades e sentimentos fugazes. Tudo não passa de embalagem. Os membros de sua família derretem em meio à mediocridade que consiste a classe média alta pautada sempre pelo consumo. Ovelha negra, Caio é um fugitivo daquilo que viveu anteriormente e que fatalmente fez com que todos da família apontassem o dedo para ele.

Sua presença, naquela véspera de Natal, incomoda aos outros; os anos passaram, e agora ele parece ser o único a ter o direito de apontar o dedo para qualquer um da família. Mas Caio só quer mesmo voltar à simplicidade, ao ferro-velho, aos braços da amada e respirar um pouco de ar após uma triste noite de Natal (todas são).

“Shame” (2011), de Steve McQueen (II)

Foto: Divulgação

“Shame” fala de sexo. Sexo sem firulas. Sexo em sua essência. Sexo como sendo um dos vícios que acometem os seres humanos. Brandon (Michael Fassbender) é um sujeito bem sucedido e independente em Nova York. E também viciado em sexo. Sua rotina e ordem mental – trabalho, casa, sexo, sexo e sexo – são atrapalhadas com a visita da irmã Sissy (Carey Mulligan), que parece ter chegado para ficar.

Fatores que mais me surpreendem em “Shame” é a sinceridade do roteiro (não é tarefa fácil falar do vício em sexo sem citar masturbação, sexo coletivo, sexo pago, impotência sexual, sexo entre pessoas do mesmo sexo e sexo incestuoso) e também uma espécie de dualidade entre limpo e sujo, sagrado e profano, amor e sexo.

Em contraponto às “sujeiras” de Brandon pelos becos em busca de sexo, temos um cenário clean perfeito ao redor do personagem: ruas limpas e desertas na madrugada, metrô brilhando, vida executiva alva e um apartamento com ares minimalistas de dar inveja.

“Moonrise Kingdom” (2012), de Wes Anderson

Foto: Divulgação

Neste filme ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original, o ótimo diretor Wes Anderson apostou na ingenuidade e sinceridade das crianças para contar uma das mais bonitas histórias de amor do cinema. Sam (Jared Gilman) e Susan (Kara Hayward), no auge dos seus 12 anos, arquitetam um plano de fuga após instigante troca de cartas singelas.

A ideia é viver na floresta, sem adultos por perto. Mas uma verdadeira paixão conta sempre com retardatários, no caso os pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand), o capitão Sharp (Bruce Willis) e o escoteiro-chefe Ward (Edward Norton).

E, afinal, o que são os relacionamentos afetivos se não duas crianças (disfarçados de jovens adultos em início de carreira) buscando o isolamento, dentro de um apartamento pequeno, para conhecerem melhor o amor e também para se autoconhecerem? “Moonrise Kingdon” simboliza o que há de mais bonito na relação entre duas pessoas apaixonadas: a cumplicidade, ou o velho e bom “tamo junto”.

“Ela” (2013), de Spike Jonze

Foto: Divulgação

Escrevi parte desta lista ouvindo a trilha sonora do filme “Ela”, assinada por William Butler e Owen Pallett, da banda Arcade Fire. Quem me conhece sabe: quando gosto de algo, principalmente musical, sou capaz de passar anos consumindo-a. A trilha é insuperável, mas falemos do filme: em “Ela”, Spike Jonze foi capaz de fazer o filme que melhor retrata a solidão das pessoas no mundo contemporâneo.

Para isso, profetiza um tempo não muito distante em que namoraremos sistemas operacionais com projeções de voz. O escritor de cartas encomendadas Theodore (Joaquin Phoenix, um dos meus atores prediletos) passa a se relacionar com a voz de Samantha (Scarlet Johansson, que recebeu premiações mesmo tendo participado só com a voz no longa). No mundo de Jonze, finalmente é permitido ser triste.

É normal, pelas ruas, encontrar gente falando com seus sistemas operacionais, sempre sozinhas, em raros momentos de descontração e até sorrisos. No filme “Ela”, a solidão dos homens e das mulheres é algo comum, e já não é preciso mais disfarçar o fato de que, ao chegarmos em casa, talvez a única companhia será a de um videogame de última geração, ou então a da sua nova namorada representada pela sensual voz de Scarlet Johansson em um sistema operacional.

Em uma das frases mais fortes do protagonista, uma reflexão sobre as relações humanas atuais, sobre o jeito que vivíamos e sobre como passamos a viver principalmente após o advento da internet: “Às vezes eu acho que já senti tudo que eu deveria. E que não sentirei nada a partir de agora. Só versões menores do que já senti”.

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