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24 de abril de 2024

ENTREVISTA: Psicopata, no limite tênue entre a loucura e a maldade


Por Nailena Faian Publicado 14/02/2020 às 13h18 Atualizado 24/02/2023 às 01h42
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Você já deve ter ouvido falar do termo psicopata. Mas e condutopata, você sabe o que é? Na verdade os dois termos são sinônimos que denominam um tipo de pessoa que nasce com distúrbios de comportamento e não apresenta, por exemplo, ética e valores morais.

É uma patologia na conduta humana, conforme explicou o psiquiatra forense Guido Palomba em entrevista ao GMC Online. Ele se dedica há mais de 30 anos a essa profissão que avalia a sanidade mental de pessoas envolvidas em processos judiciais. 

Palomba tem mais de 15 mil laudos de casos analisados. Muitos deles de crimes que chocaram o país nos últimos anos. 

O especialista defende que um condutopata é irrecuperável e não pode voltar a sociedade. Também diz que a psquiatria forense está deficitária de bons profissionais. Confira a entrevista completa.

Qual a diferença entre psicopata e condutopata?

Um é sinônimo do outro. O termo psicopata teve muitos nomes na história. O primeiro que descreveu esse tipo de quadro clínico, em 1855, usou um nome interessante, chamado loucura moral. Tiveram outros nomes como enfermidade do caráter, loucura lúcida, anestesiados do senso moral, insociáveis, psicopatas, sociopatas e finalmente condutopatas, que é o melhor nome na minha maneira de entender. Isso porque a moléstia e a deformidade estão na conduta. São indivíduos que se diferem dos normais porque têm uma conduta patológica.

É possível curar um condutopata?

Não é possível. A condutopatia é uma deformidade. A pessoa nasce e desenvolve nela. Mas é claro que você tem como abordar alguns condutopatas, mas não curar. São indivíduos que ficam na zona fronteiriça que separa a loucura da normalidade. Não são nem normais nem doentes mentais propriamente ditos.

É possível que uma pessoa tenha atitudes normais e somente em um determinado período da vida comece a apresentar as atitudes de um condutopata?

Normalmente os primeiros sinais de sintomas clínicos começam na infância, na adolescência. Mas não é o fato de apresentar alguns distúbios de comportamento na infância e na adolescência que ele será um condopata quando adulto. Quando você examina um adulto condutopata, você sempre encontra coisas erradas na adolescência. Não existe nenhuma vivência dolorosa, por mais dolorosa que seja, que determine um indivíduo dessa natureza. A pessoa nasce assim.

Qual a diferença de um doente mental para um condutopata?

Na doença mental, eles rompem com a realidade, é um mundo completamente diferente daquele que vivemos. Eles têm delírios, por exemplo, se sentem perseguidos, escutam vozes que ninguém escuta, têm alucinações visuais e auditivas. Mas os condutopatas não têm isso.

Então, quais são as características dos condutopatas?

São três características básicas e primárias. Primeiro que eles não têm sentimento superior: ansiedade, compaixão, altruísmo. Isso tem consequências, como a ausência completa de remorso. A segunda característica é que eles têm o desejo totalmente deformado. Eles querem coisas que pessoas normais não querem. Por exemplo, querem matar uma pessoa para vê-la cair. A terceira característica, que acho ser a maior, é que eles não têm valores éticos e morais, ou seja, eles não têm freios. É por meio dessas características que se dá o diagnóstico de um condutopata.

Condutopatas tendem a cometer crimes contra mulheres?

Não se pode dizer isso. Eles cometem crimes de toda natureza, contra mulheres, crianças, etc. Nem sempre eles são assassinos também. Quando vão para o crime podem ser golpistas, estelionatários, etc.

E como é a prisão para os condutopatas? Ficam com os presos normais?

Quando eles estão presos com os detentos comuns se tornam altamente manipuladores. É mais uma característica deles. Como têm desvio de caráter, então eles não têm nenhum tipo de cerimônia para induzir para aquilo que eles querem. Muitas vezes, por erro judiciário, os condutopatas vão parar nos presídios comuns. Na lei brasileira, se é doente mental, vai para uma casa de custódia, são os antigos manicômios. Se é normal, vai para o presídio comum. Se ele é um condutopata, ou seja, está no meio entre a loucura e a normalidade, vai depender. O juiz decide para fins penitenciários se ele é igualado a um doente mental e vai para manicômio ou se é igualado a um criminoso comum e vai para um presídio comum. Existia até 1985, quando teve a reforma do Código Penal, uma casa de custódia e tratamento só para esses tipos de indivíduos.

Como está hoje o cenário da psquiatria forense?

Hoje a psiquiatria forense sofre um grande problema com a ausência de bons peritos. Os peritos são muito mal formados no Brasil todo. Eles acabam dando diagnósticos errados. Muitas vezes eles vão nos locais em que os condutopatas estão recolhidos e veem que estão calmos, atentos, não alucinam, não deliram, não delinquiu mais, acham que está tudo bem, que não tem mais periculosidade social e dão parecer favorável. O que eu tenho prosposto é que esses peritos que dão esses pareces respondam culposamente pelo delito caso o indivíduo retorne para a rua e volte a delinquir. Isso para que eles tomem mais cuidado na hora de emitir um parecer tão importante para a sociedade quanto esse.

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