Nova espécie de sucuri, a anaconda verde do norte é uma das maiores do mundo


Por Redação GMC Online

As sucuris são consideradas as maiores cobras do mundo e, mesmo sem possuírem veneno, são bastante temidas por conta do seu enorme porte. Também chamadas de anacondas, elas são divididas entre quatro espécies, com destaque para a sucuri-verde, considerada a maior serpente em massa corporal do mundo, podendo medir mais de sete metros e pesar cerca de 200 quilos. Contudo, uma descoberta recém apontada pela revista científica Diversity evidenciou a existência de uma quinta espécie, também chamada de sucuri-verde, mas com algumas diferenças.

Foto: Ilustrativa/Agência Brasilia

Nova sucuri-verde

Até então, acreditava-se que havia apenas uma espécie de sucuri-verde, a Eunectes murinus. Essa espécie, também conhecida como anaconda verde do sul, vive nas regiões do Peru, Bolívia, Guiana Francesa e Brasil, e, segundo o professor Miguel Trefaut Urbano Rodrigues, do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), ela possui diversas semelhanças morfológicas com a nova espécie registrada, a Eunectes akiyama.

Miguel Trefaut Urbano Rodrigues/
Foto: Pesquisa FAPESP

“Então, vários caracteres, números de escamas ventrais, subcaudais, dorsais, em várias partes do corpo, supralabiais, infralabiais, número de manchas e assim por diante tornam extremamente difícil, senão impossível, separá-las com confiança, então isso precisa ser mais estudado e com uma amostra maior ainda”, comenta o docente.

Porém, estudo feito pela revista acadêmica The Conversation relata uma diferença genética de 5,5%, porcentagem maior do que a diferença entre humanos e macacos, com cerca de 2%. Trefaut afirma: “Eles acabaram descobrindo isso estudando os dados moleculares de várias localidades, não é uma cobertura geográfica ideal, porque tem uma lacuna imensa ainda de localidades. Eles acabaram descobrindo diferenças importantes em genes mitocondriais entre várias populações do norte da América do Sul e, comparadas com a antiga sucuri-verde, essas diferenças foram bastante importantes. Eles não estudaram genes nucleares, que são extremamente importantes também. De qualquer maneira, não é surpresa que se descubram novas espécies entre essas cobras gigantes, especialmente quando se estudam caracteres moleculares”.

A nova espécie, também chamada de anaconda verde do norte, aparentemente é encontrada no Equador, Colômbia, Venezuela, Trinidad, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, mas ainda não são claros os limites de distribuição das duas espécies, especialmente em direção à região norte. “Não se sabe se elas se encontram, se ocorre ou não hibridização entre elas, especialmente na região das Guianas e norte do Brasil e da Amazônia brasileira. É preciso também aprofundar a análise com genes nucleares e ampliar a representatividade geográfica das amostras; e um problema sério do trabalho é um problema taxonômico, porque eles acabaram não tratando de nomes que estão disponíveis, que poderiam ter prioridade sobre o nome da nova espécie que eles propuseram”, alerta o professor.

Sucuris na Amazônia e processo de taxonomia

As outras espécies de sucuris reconhecidas, além das duas anacondas verdes, são a Eunectes deschauenseei, encontrada na Ilha do Marajó e outras regiões do norte brasileiro, a Eunectes notaeus, encontrada em regiões do Pantanal, e a Eunectes beniensis, encontrada na região de Beni, na Bolívia. Segundo Trefaut, as três espécies foram sinonimizadas com base em dados genéticos e se diferenciam das sucuris-verde principalmente pelo tamanho, coloração e, eventualmente, tamanho de manchas.

“Mas isso precisa ser feito com mais cuidado, precisa fazer uma análise geográfica bastante bem feita dessa variação morfológica, tanto no padrão de coloração quanto na escamação, para se poder ter certeza. E precisa também analisar bem a ninhada, para ver a variação entre a mesma ninhada e inter-ninhadas, se elas são grandes ou não”, afirma o professor.

Sobre o processo de taxonomia de novas espécies, como foi o caso da sucuri-verde do norte, o docente explica que, de maneira geral, os exemplares são catalogados, juntamente com notas de campo, fotografias e amostras para estudo de DNA preservadas no meio adequado, como sangues e tecidos, e são analisados em laboratórios, reunindo exemplares de diferentes localidades para a comparação de caracteres entre as espécies de um mesmo gênero — no caso das sucuris, o gênero Eunectes. “Se a gente constatar diferenças, e que elas tenham uma coerência geográfica, a gente procede a descrição da espécie e a descrição, quando está pronta, é submetida a uma revista científica para ser avaliada”, finaliza.

As informações são do Jornal da USP.

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