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03 de dezembro de 2024

O fim dos anos


Por Elton Tada Publicado 26/12/2022 às 21h21
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Existe uma grande questão na historiografia sobre a partir de onde devemos escrever a história. Note, toda vez que alguém diz que está registrando a história enquanto ela acontece, a pessoa está te dizendo uma meia verdade. Por que? Simples, a história não acontece como história, ela acontece como fenômeno que se passa ou não diante de nossos olhos. O fenômeno da vida, acontece e nós vivenciamos apenas parte desses acontecimentos. Quando construímos a história, construímos narrativas sobre coisas que aconteceram e que nós vivenciamos em parte e interpretamos como um todo. As histórias devem possuir começo, meio e fim. Por isso, partimos da parte que experimentamos e costumamos completar os espaços em branco com o que pensamos ser o mais adequado ou mais lógico, mas nem sempre é.
Por que estou falando sobre isso? Porque é fim de ano, época em que costumamos fazer história. Nós vivemos as coisas ao longo do ano e pensamos sobre elas no final de ano, quando é tempo de viver menos e pensar mais. E essas coisas que pensamos nos fins de anos são as histórias que contaremos ao longo da vida, como histórias, que nem sempre aconteceram exatamente daquela forma, mas que significam exatamente o que contamos.
Veja, há um outro problema. Os historiadores discordam se devemos escrever a história a partir dos grandes eventos ou a partir dos pequenos eventos do cotidiano. Eu, particularmente, acredito que nós só escrevemos história de verdade a partir dos pequenos eventos do cotidiano, mas precisamos de grandes eventos para marcar o tempo de referência para as outras pessoas. O calendário funciona em partes para a referência, mas ele está em branco pendurado na parede e nós, como seres vivos, carecemos de um pouco de vida para tudo.
Eu vou adorar dizer no futuro que o final de 2022 foi quando começaram a pipocar eventos terroristas no país – e espero que eles parem por aqui. Talvez você não esteja vendo esses eventos, mas cabe a cada um a tarefa de olhar para onde quer. E eu não posso deixar de olhar para o que está acontecendo, porque me interessa ver o testemunho da barbárie da sociedade. Essa barbárie foi profetizada durante e depois da segunda Guerra mundial. Foi amplamente vivenciada durante as ditaduras latino-americanas na segunda metade do século XX. Essa barbárie sempre esteve por aí. Como diriam os historiadores de Jesus, quem tem ouvidos ouça a palavra.
A sociedade tem camadas. Você vê primeiro as camas mais externas e com muita atenção consegue ver camadas mais internas. Talvez, um dia, as pessoas consigam ver o quanto os discursos patrióticos e cristãos não são de fato patrióticos ou cristãos, mas apenas expressões de um misto de medo e desejo de poder.
Mas, tudo bem. Já passamos por momentos piores e por momentos melhores. Sempre houve quem se negou a deixar de lado a ignorância que dá firmeza para uma vida com algum tipo de sentido, mesmo sendo um sentido falso e ilusório. A ilusão está na base e no centro de todos os problemas.

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