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18 de maio de 2024

Faz sentido fazer mestrado e doutorado se eu trabalho na iniciativa privada?


Por João Ricardo Tonin Publicado 23/02/2024 às 10h22 Atualizado 06/03/2024 às 13h22
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Não vou gastar seu tempo para dar essa resposta. Se veio até aqui para saber minha opinião, a resposta é SIM!
Agora vou esclarecer para você o motivo pelo qual fazer mestrado e doutorado é muito importante para quem trabalha na iniciativa privada. Fora do país essa dúvida quase não existe, pois há muitos profissionais do mercado na academia, e vice-versa.

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Faz sentido fazer mestrado e doutorado se eu trabalho na iniciativa privada? Foto: Ilustrativa/Freepik

Há muito tempo eu aguardo para escrever esse artigo e apresentar reflexões sobre oportunidades e aprendizados que você pode adquirir na interação entre academia e mercado.

Desde muito jovem tenho uma paixão muito grande pelo conhecimento. Na graduação fui o aluno do “fundão” e que estudava exaustivamente para tirar a nota para passar de ano. Eu lembro em detalhes o primeiro dia de aula na graduação. Naquela época eu tinha o sentimento de ser o aluno mais ignorante da sala, pois enquanto meus colegas respondiam rapidamente e com propriedade as perguntas do professor, eu ficava tentando entender o que ele estava questionando.

De lá para cá mantenho esse sentimento. Também escolhi, em partes pela necessidade de ganhar dinheiro para pagar as contas, trabalhar e estudar ao mesmo tempo, desde a graduação até o doutorado.

Não foi uma tarefa fácil, pois exigia longas horas de estudo e pouca diversão. Mas pude utilizar estratégias da iniciativa privada na academia, e vice-versa. Vou sumarizar elas para você:

O que o mercado privado me ajudou na academia?

  • Definir uma estratégia antes de fazer qualquer coisa: Como eu não tinha muito tempo disponível para estudar eu sempre me questionava: qual é a melhor estratégia para escrever um artigo, ler um livro, fazer um fichamento ou para estudar para uma prova? Depois que encontrava a resposta, eu colocava a estratégia em execução, nunca o contrário.
  • Ajudar os colegas e estudar em conjunto: Eu sempre fui muito colaborativo em termos de materiais produzidos. Fichamentos de livros, listas de exercícios resolvidos e materiais de apoio eu não tinha apego nenhum de emprestar para os colegas, inclusive provocava momentos de estudo em conjunto. Há muita competição dentro da academia, mas o mercado privado me ensinou que a competição é sempre com você mesmo.
  • O que eu estou fazendo serve para outra coisa também? esse é um conceito importante que eu utilizo, se estou fazendo um artigo consigo aproveitar ele para fazer uma publicação no Linkedin? reportagem de jornal? oportunidade de resolver um problema na empresa que eu trabalho? se o artigo não criar oportunidade para algo mais, é melhor desistir dele logo de início.
  • Engolir o sapo: A academia é um ambiente complexo, além do conhecimento os alunos aprendem muito sobre resiliência. Há uma prova de fogo que os acadêmicos precisam passar para ter o título de mestre ou doutor. Se você tem um porquê você enfrenta qualquer “como”.
  • Fazer network: Durante o desenvolvimento da minha tese enviei mais de 50 e-mail para pesquisadores fora do país. Tive resposta de apenas 2, um me deu dicas importantes na minha Tese e outro me ajudou muito com a base de dados da COVID19 que estava trabalhando. Mantive boa amizade com amigos e professores, creio que vou poder contar com eles e eles comigo nos próximos anos.

E o que a academia me ajudou no mercado privado?

  • Fazer a máquina em vez de apenas saber usá-la: O mercado privado exige produção e entrega constantemente. No dia a dia não há tempo de sobra para aprender novas formas de fazer a mesma coisa ou criar algo melhor e mais funcional. Na academia o foco é totalmente o inverso, você tem tempo disponível para aprender algo novo e que esteja na superfície do conhecimento. Essa experiência trouxe descontentamento em fazer minhas atividades sempre da mesma forma. Eu sempre me questiono: “Não é possível, não existe uma forma melhor de fazer essa atividade sem perder tanto tempo?”
  • Aprender sozinho: Diferente da graduação, os professores atuam mais como tutores. Para ter um bom desempenho é necessário ser autodidata. Então, antes de desistir do problema eu sempre pesquisava exaustivamente uma resposta publicada por alguém. É quase impossível ter um problema para resolver que já não foi resolvido por alguém. Também aprendi a pesquisar sempre em inglês. Usar a língua portuguesa na pesquisa é um limitador de opções de soluções já criadas.
  • Se expressar melhor: Minha gramática não é a das melhores, mas era terrível antes da pós-graduação. Na academia a régua para a escrita é muito alta, é necessário colocar as ideias no papel e provar que elas são verdadeiras. E tirar algo da sua cabeça e colocar no papel é algo muito desafiador.
  • Criar repertório de ferramentas: Hoje uso uma infinidade de softwares para analisar dados, escrever e buscar informações, que muitas vezes não são tradicionalmente usados pelas empresas no dia a dia. Durante o mestrado e doutorado você tem a capacidade de criar a sua própria caixa de ferramentas.
  • Fazer boas perguntas: A escrita de um artigo sempre está relacionada à busca das respostas para uma pergunta chave. E se a pergunta não estiver bem dimensionada ou for irrelevante? Na academia a primeira etapa antes de realizar a pesquisa é a construção de uma boa problemática. No mercado privado ficamos muito focados na execução.

Eu particularmente gostaria que todos os profissionais da iniciativa privada tivessem a oportunidade de ingressar no mestrado e doutorado. Também gostaria que todos os alunos de pós-graduação que vão seguir a vida acadêmica tivessem pelo menos uma experiência no mercado privado. Há ganhos para ambos os lados.

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